Pesquisadores brasileiros e americanos confirmam que bebês infectados pelo zika durante a gestação podem desenvolver microcefalia tardia. Um estudo inédito no mundo avaliou 13 bebês que nasceram aparentemente normais em Pernambuco e no Ceará, mas que as mães tinham relato de infecção suspeita de zika.
Todos tiveram exames positivos para o vírus e apresentaram complicações relacionadas à infecção congênita, mas 11 começaram a ter um crescimento mais lento da cabeça perto dos cinco meses de vida tornando-se microcéfalos. O estudo foi publicado ontem na revista Morbidity and Mortality Weekly Report, do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos.
“São crianças que nasceram de mães que tiveram o zika, mas sem microcefalia, só que posteriormente apresentam. Durante o acompanhamento temos observado que esses bebês apresentam quadros de alterações neurocognitivas ou oftalmologias”, disse a infectologista do HUOC Regina Coeli uma das co-autoras do trabalho. Na microcefalia pós-natal, a neuroimagem apresentou malformações de desenvolvimento cortical, calcificações, evidência de diminuição do volume cerebral, com ventriculomegalia em todos os lactentes.
A diminuição no crescimento da cabeça pode ser a consequência da destruição intrautero precoce de neuroprogenitoras ou outras células neurais, de moléculas associadas à resposta inflamatória persistente ou de infecção continuada de células neurais. A investigação ainda a participação de médicos pernambucanos conhecidas em anteriores descrições dos riscos do zika para os fetos como a neuropediatra Vanessa Van der Linden, a otorrino Mariana Leal, o ortopedista Epitácio Rolim e a cientista da Fiocruz Marli Tenório.
As crianças foram avaliadas por equipes multidisciplinares em dois centros de referência no Brasil: o Centro de Reabilitação da AACD, no Recife, e o Hospital Infantil Albert Sabin, em Fortaleza, durante outubro de 2015/2016. No grupo de bebês, 11 nasceram a termo e dois prematuros. Seis das 13 mães descreveram uma erupção cutânea entre o 2º e o 5º mês de gravidez. Foi observada desproporção craniofacial em seis crianças. Três tiveram displasia da anca, incluindo uma criança com artrogripose que tinha quadris deslocados dos dois lados.
Todos positivaram para sorologia IgM, o que indica infecção em curso, seja no líquido cefaloraquidiano, soro ou em ambos. Chama a atenção uma das crianças ter apresentado IgM positivo em um re-teste realizado aos 5 meses de vida, o que indica que o vírus pode continuar se multiplicando por um longo período no corpo e no cérebro.
“Estamos acompanhando também essa questão porque não podemos dizer que isso acontece com todas as crianças. A gente sabe o tempo da infecção na rubéola, no citomegalovírus, mas nas crianças com zika ainda”. Para acompanhar essa viremia e outros danos que ainda possam surgir todos os bebês serão acompanhados até os 5 anos. Ainda no estudo dez crianças apresentaram disfagia (dificuldade de deglutir), sete tinham epilepsia, cinco irritabilidade e duas paralisia parcial.
Campanha alerta grávidas sobre Zika
Informação, conscientização e prevenção. Com esses pilares a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), em parceria com entidades como a Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Merck e Ferring, lançou a campanha “Vamos Conversar”.
A iniciativa busca esclarecer dúvidas dos casais que desejam engravidar neste cenário de zika e microcefalia. A campanha pretende desmistificar o tema e diminuir os boatos sobre os riscos do vírus para a gestação. O material está disponível no site www.gravidezemtemposdezika.com.br e na página www.facebook.com/ gravidezemtemposdezika.
“O objetivo principal é conscientizar. Segundo é dizer que se pode engravidar. A conscientização é orientar como se adequar à gravidez nesses tempos de zika. O que fazer para minimizar riscos. Fazer seus exames e se manter protegida agora, principalmente, por conta desse segundo surto que deve vir”, indicou a representante da SBRA em Pernambuco, a médica Madalena Caldas.
Entre as dicas da campanha para as mulheres grávidas está o uso de repelentes com parcimônia, até porque o produto também é tóxico. Elas devem preferir roupas com mangas, calças compridas, e optar por meias elásticas caso se use saia. Nós pés é mais seguro sapatos fechados.
A médica destacou ainda que o uso de preservativo deve ser a rotina durante toda a gravidez. Ontem, o diretor de Saúde Infantil da OMS, Anthony Costello, afirmou que aguarda a confirmação de mais de 1 mil casos de microcefalia no Brasil.